domingo, 9 de outubro de 2011

VISCONDE

Quando comecei a escrever O visconde partido ao meio, queria sobretudo escrever uma história divertida para divertir a mim mesmo, e possivelmente para divertir os outros; tinha essa imagem de um homem cortado em dois e pensei que o tema do homem cortado em dois, do homem partido ao meio fosse um tema significativo, tivesse um significado contemporâneo: todos nos sentimos de algum modo incompletos, todos realizamos uma parte de nós mesmos e não a outra.
[...] Que depois, num certo ponto, se descobrisse, ao contrário, um visconde absolutamente bom no lugar do mau [...] que estas duas metades, a boa e amá, fossem da mesma forma insuportáveis era um feito cômico e ao mesmo tempo significativo, porque às vezes os bons, as pessoas demasiado programaticamente boas e cheias de intenções, são uns chatos terríveis.


(Ítalo Calvino, O visconde partido ao meio, p. 5-6)