Não dormia mais desde que compreendera que no sossego da noite meu cérebro funcionava melhor. P. 15
Então pensava com meus botões que minha vida tinha sido fácil demais e que eu estava condicionada por uma educação em que o medo da mudança se escondia atrás de prescrições de prudência. P. 17
Sou dona de mim mesma, mas pequena e frágil, humilde pois consciente demais de minha vulnerabilidade e de minha inconsequência. E minha solidão me descansa. Sou a única responsável por minhas contradições. Sem precisar me esconder, sem o peso daquele que escarnece, que late ou que morde. P 84
Compreendi então que a vida nos enche de provisões para nossas travessias do deserto. Tudo o que eu tinha adquirido de modo ativo ou passivo, tudo o que tinha aprendido voluntariamente ou por osmose me voltava como verdadeiras riquezas de minha existência num momento em que eu tudo perdera. p. 111
Descobri o mundo da insônia e o encantamento que ele produzia em mim. Aquelas horas de vigília me davam acesso a outra dimensão de mim mesma. Uma outra parte de minha mente se substituía à primeira. P 115
[...] descobri que o que os outros têm de mais precioso a nos oferecer é o tempo, ao qual a morte dá o seu valor. P 139
As boas lembranças são aquelas vividas com os que amamos, porque podemos rememorá-las juntos. P 160
Tomei a decisão de ser prudente e me calar. Eu observava como jamais tinha feito antes, compreendendo que os mecanismos de transformação espiritual demandavam uma Constancia e um rigor que eu tinha o dever de conquistar. Precisava me vigiar. P 167
Sabia que a situação em que vivia era uma oportunidade que a vida me oferecia para me interessar por outras coisas que em geral me repugnavam. Descobri outro modo de viver. P. 180
Na imensidão da selva, onde faltava tudo, menos espaço, a guerrilha resolvera nos confinar num lugar exíguo e insalubre que favorecia apenas a promiscuidade e o confronto. P 231
[...] eu detestava aquilo em que estávamos nos transformando. Sentia que corríamos o risco de perder o melhor de nós mesmos, de nos dissolver na mesquinharia e baixeza. Tudo isto não fazia senão aumentar minha necessidade de silêncio. P 246
Nadie le quita a uno ni lo comido, ni lo bailado. (Ninguém tira da gente o que se come e o que se dança). P 249
Era de tal forma ridículo que era magnífico. P 264
O mais grave não era morrer. O pior era me tornar aquilo que eu mais abominava. P 364
Eu abria os olhos para a importância de nos exercitarmos para continuar humildes onde quer que nos situemos na roda da fortuna. Precisei descer na escala humana para compreender isto. P 366
Livro: Não há silêncio que não termine. Ingrid Betancourt (Meus anos no cativeiro na selva colombiana)