sábado, 10 de setembro de 2011

ROSIE

Tenho 90 anos. Ou 93. Uma coisa ou outra.
Quando temos cinco anos, sabemos até os meses de nossa idade. Mesmo por volta dos 20 anos sabemos quantos anos temos. Tenho 23, dizemos, ou talvez 27. Mas quando chegamos nos 30, algo estranho começa a acontecer. A princípio, é um mero sobressalto, um instante de hesitação. Quantos anos você tem? Ah, eu tenho - você começa confiante, mas depois para. Ia dizer 33 , mas não é esta a sua idade. Você está com 35 anos. E isso o incomoda, pois, você fica imaginando se não é o início do fim. Claro que é, mas ainda faltam décadas para você admitir isso.
Começamos a esquecer as palavras: elas estão na ponta da língua, mas, em vez de simplesmente saírem, permanecem ali. Subimos a escada para buscar alguma coisa e, quando chegamos lá em cima, não lembramos mais o que estávamos procurando. Chamamos um filho pelo nome de todos os outros e até pelo nome do cachorro antes de acertar. Às vezes esquecemos em que dia estamos. E, por fim, o ano.
Na verdade, não é que eu tenha esquecido. Simplesmente deixei de prestar atenção.
[...]
Fingir que a cabeça funciona plenamente dá trabalho, mas é importante. De todo modo, eu não estou realmente confuso. Só tenho mais coisas para lembrar do que as outras pessoas.
[...]
O mais difícil quando nos sentamos sozinhos a uma mesa é que não há nada para nos distrair das conversas dos outros. Não quero ser bisbilhoteiro; só que não posso deixar de ouvir o que dizem.
[...]
Minhas banalidades não lhes interessam, e dificilmente eu poderia culpá-los por isso. Minhas histórias reais estão defasadas. [...]Nada de novo me acontece. Essa é a realidade do envelhecimento, e acho que essa é a questão essencial. Ainda não estou preparado para ser velho.

Fonte: Livro ÁGUA PARA ELEFANTES - Sara Gruen